O PASSADO
MANDA LEMBRANÇAS
UMA VIAGEM
DE TREM A
NOVA FRIBURGO
Conforme ata da Câmara de janeiro de 1870, a estrada de ferro foi logo
percebida como o grande fomento de que precisava a então pacata vila de Nova
Friburgo para trazer mais touristes à
cidade.“...Além disso, a estrada de ferro
facilitará aos ricos que quiserem se distrair e aos doentes que se quiserem
curar ou convalescer sob este clima doce, suave e ameno, cuja reputação é
tradicional, um rápido e cômodo transporte. A serra da Boa Vista deixará de ser
o espantalho dos habitantes de aquém e de além Nova Friburgo.....”
O trem para Nova Friburgo partia diariamente às 7:00 horas da manhã da Estação de Maruhy, em Niterói.
A barca que ficava em correspondência com esse expresso saía às
6:10 da manhã da Praça 15 de Novembro. O trem passava pelas estações do Porto
da Madama, São Gonçalo, Alcântara, Guaxindiba e Itamby, sem fazer nenhuma
parada. Chegava à estação de Porto das Caixas às 8:00 horas da manhã. Essa
estação, que ficava a 34 km
de Maruhy, era uma parada providencial para se adquirir, dos vendedores de
frutas, cambucás, laranja, tangerina, lima, limão doce, jabuticaba, fruta do
conde, abacaxi, melancia, sapoti, abacate, etc. Mas para a viagem levava-se
ainda um farnel com cestas de frango assado e uma lata repleta de pastéis. Os
homens usavam guarda-pó. Na cabeça, um lenço com nós nas quatro pontas para
proteger os cabelos do pó do carvão expelido pelo trem e da poeira da estrada. Vendedores
das apreciadas orquídeas(parasitas), a Catléia
Harrisonia, enchiam os olhos principalmente dos estrangeiros, como os
ingleses, apreciadores dessa planta nativa. No botequim da estação, um café
acompanhado de bolo de arroz ou de milho.
A Vila de Porto das Caixas fora outrora lugar de grande comércio e parada
dos tropeiros que transportavam café de Cantagalo. Nessa estação, a linha
bifurca-se, seguindo a de Cantagalo para a esquerda e a de Campos para a
direita. Passa-se por pontes, pontilhões e avistam-se as ruínas da Igreja do
Convento dos Jesuítas. De Porto das Caixas chega-se a Sant´Anna de Japuhyba às
08:35 da manhã, com pequenas paradas em Sambaetiba e Papucaia. Segue o trem
então rumo a Cachoeiras sempre guiado pelo Rio Macacu. Próximo às 9:00 horas da
manhã, depois de um percurso de 73
km , chega-se a Cachoeiras de Macacu. Mais uma parada
para o lanche onde se encontram no botequim, café, pão de loth, beijus e bananas. Nessa estação, faz-se a mudança da
locomotiva por outra mais apropriada à subida da serra. Segue o trem, passando
logo depois da saída da estação por uma ponte sobre o Rio Macacu e chega-se a
estação da Boca do Mato onde o trem fica por pouco tempo. Dessa estação é que
realmente começa a subida da serra longa e majestosa de Nova Friburgo onde o
trem serpenteava, animado pelo vapor de suas máquinas possantes, e sob uma
chuva de fogo a cair sobre o comboio. Na serra, a viagem de trem transportava o
espírito do viajante para um abismo na confusa expressão de suas brumas. Quando
a paisagem então se descortina, “tem-se a
ideia de que o trem se encaminha para o céu, para um reinado de nuvens, em meio
a árvores em flor e na fresca e suave aragem que sai de suas florestas. Desde o
alto da serra que tudo é cantante: a mata, o riacho que se atira pelo declive,
o agricultor montanhês que traz o produto de sua roça ao mercado, os seus
sítios, suas granjas trabalhadas à margem da estrada que corre ao lado da de
rodagem, até que afinal o silvo da locomotiva anuncia Friburgo com o seu vôo de
pombos à entrada!”, assim descreveu um viajante na matéria “Pérola Esquecida”,
em O Nova Friburgo , de 09
de maio de 1937.
Passados vinte e cinco minutos de subida por entre altas montanhas, matas
virgens e tendo sempre à direita o Rio Macacu, repleto de cachoeiras, chega-se
ao Posto do Penna, no meio da serra, no quilômetro 86, já numa altura de 586 metros acima do
nível do mar. Já no quilômetro 90 alcança-se o Posto do Registro encontrando-se
o trem já numa altitude de 732
metros . Uma pequena parada para a máquina do trem “tomar
água” e os passageiros aproveitam igualmente para se refrescarem bebendo água
que corre em uma pequena fonte artificial. Do Posto do Registro até a Estação
de Theodoro de Oliveira(km 93), conhecido como o Vale do Santo Antonio, leva-se
doze minutos. Chega-se a essa estação por volta da dez horas e depois de uma
pequena parada, para mudar de novo a locomotiva, parte-se para a tranquila
cidade serrana de Nova Friburgo, já agora o trem acompanhado pelo Rio Santo
Antônio. Avista-se então a represa de abastecimento d´água de Nova Friburgo
onde o rio precipita-se formando uma bela cachoeira, denominada de Hans. Descendo
o trem, alcança-se a Ponte da Saudade. Esse pitoresco lugar foi assim
denominado porque essa ponte era a última parada das pessoas que acompanhavam
os que partiam em viagem a cavalo ao Rio de Janeiro. Faltando um quilômetro
para chegar à estação da cidade(hoje a Prefeitura Municipal) a maria fumaça, ou cavalo de ferro apita, anunciando estrepitosamente a sua chegada.
Depois de ter feito um percurso de 108 km partindo de Niterói, chega a Nova Friburgo.
Quando de sua entrada na cidade, os meninos tinham por hábito brincar na linha
do trem, exibindo-se para as meninas. Costumavam ficar sobre os trilhos
aguardando o trem e quando esse se aproximava permaneciam até o último
instante. O maquinista apavorado, sem poder frear o trem rapidamente, apitava,
apitava e os “capetas” rodopiavam cada vez mais sobre os trilhos. Só saltavam
fora dos trilhos no último instante....Na viagem de trem a Nova Friburgo, o
passado manda lembranças.
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